sexta-feira, 1 de julho de 2011

REFLEXÃO

(clique na imagem para ampliar)
Troupe,

Ontem (30 de junho), no final do ensaio eu fiz comentários críticos sobre a postura do grupo no trabalho. Disse que o principal – e o que estamos deixando de lado, por inexperiência e conseqüente descuido – é a fantasia, ou melhor: o fantasiar.
O que é que eu quero dizer com isto?
Quero dizer que é preciso “brincar”, é preciso “delirar”.
O teatro só faz sentido para o ator ou a atriz, para o diretor, para o artista, quando propicia o seu “encantamento”.
E o que é o tal “encantamento” do artista?
É a mágica que nos faz vibrar.
São os “truques” que usamos para trazer satisfação à nossa alma, à nossa mente.
Uns encontram esta satisfação no exercício da escrita, outros na pintura, outros na música, outros no palco, outros na dança e seus movimentos, outros na matemática, na poesia ... ou nas outras tantas formas de manifestação da expressão humana.
Em nosso caso, no palco, e também para as outras formas de expressão artística, esta satisfação advém do exercício da nossa “loucura”.
Que loucura?
A nossa loucura!
Aquela loucura que nos fez sair de nossas casas, vir até o palco e nos proporciona prazer quando usamos nossos corpos, nossa voz, nossos movimentos, para expressar uma personagem.
Cada personagem somos nós do avesso.
Cada personagem que representamos nos mostra um trecho dos corredores internos de nossos labirintos.
A magia está aí: está em representarmos estas nossas personagens. Está em nos colocarmos à disposição delas, para que elas se apresentem.
Brincar de ser as personagens é a mágica.
Todas as personagens que representamos existem em nós.
Repito o que sempre digo:
- Não é importante decorar o texto.
O importante é compreendê-lo.
Compreender cada fala, cada intenção da personagem no contexto da cena e, claro, da peça como um todo.
Brincar com a personagem, conhecê-la, inventá-la.
Agir e reagir como ela.
O ensaio é o lugar onde nos é permitido o exercício desta “loucura”, são nos ensaios que estamos completamente livres para experimentar posturas corporais, vozes, olhares, pausas, tempos de reação, etc...
É no ensaio que o ator ou a atriz pode errar! 
É no ensaio que se executa, com tranqüilidade, tudo aquilo que elaboramos em nossas cabeças quando tentamos visualizar as nossas personagens, quando estudamos as falas, as cenas, em casa, na rua, no trabalho, no elevador, no super-mercado...
Do contraponto entre este exercício de expressão, isto é da experimentação, da discussão com o diretor e o grupo nas avaliações do processo é que emergirá a personagem, com seus subtextos, com suas minúcias da composição.
Estamos em processo de criação e este processo é um parto!
Um parto múltiplo, de onze personagens que só nascerão perfeitas se nosso trabalho de construção lhes der ar para respirarem, lhes der sangue para reagirem, lhes der vida para se expressarem.
Complicado?
Não.
Simples.
Eis a questão!
Se você permitir que a sua intuição comande o processo de criação. Se você ousar, se você deixar o medo de lado, se você sair da sua “zona de conforto” e buscar ultrapassar seus limites deixando que o lúdico tome espaço, que a brincadeira aconteça: tudo se torna mais fácil.
Exagere! Fantasie! Brinque!
Construa sua personagem com uma lente de aumento naqueles pontos que você considerar os mais importantes para ela se expressar, isto é: aqueles pontos que mais evidenciam sua personalidade.
Exagere!
Minha função, como diretor, é dosar as suas potencialidades, dosar sua expressão para que o espectador construa a sua própria história conduzido pelo que ele, espectador, vê apresentado em cena.
Confie: eu não deixarei você passar por situações de ridículo!
Não tenha medo de nada!
Nós faremos um espetáculo muito bem construído e de grande qualidade.
Só depende de nós.
Segunda-feira próxima iniciamos a reta final da montagem de nosso espetáculo.
Estamos atrasados e interrupções como as do feriadão de Corpus Christi não nos ajudam em nada.
Nossos ensaios em julho têm que render muito.
Isto quer dizer: concentração, empenho, solidariedade entre todos da equipe nesta tarefa de construir o “Mundo Worchesther”.
Mas, vejam bem: não estou falando em sacrifício!
Ao contrário!
Estou falando que quanto mais nos entusiasmarmos com o processo de criação, quanto mais nos divertirmos com ele, mais prazeroso ele poderá ser e, também mais profícuo, mais “rendoso” em termos de qualidade e de aprofundamento do nosso trabalho artístico.
Portanto peço, encarecidamente, que vocês se divirtam mais. Brinquem mais. Concentrem-se mais. Usem mais sua intuição. Joguem mais. Troquem mais com seus parceiros de cena. Proponham mais em cada uma de suas falas, em cada uma de suas cenas.
Assim, nós, "loucos-de-pedra" que escolhemos o palco para nos exprimir artisticamente, seremos mais felizes por realizarmos nossa loucura com um alto grau de qualidade.
Gostaria muito de ouvir a opinião de cada um de vocês sobre esta reflexão.

Beijos
Até segunda às 20 horas, no palco.

Enéas Lour
01 de julho de 2011.



3 comentários:

  1. Enéas, obrigada.
    É isso mesmo, vc tem toda a razão. É isso que não estamos fazendo e temos que fazer, e eu me incluo. Nos divertir mais, entrar no "Mundo da Fantasia Worchester". Bem isso mesmo. O último ensaio não rendeu, e a sua frustração estava evidente, e agora entendi o porque.Obrigada.

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  2. Simone,
    Que bom que você comentou.
    A hora é agora.
    beijo
    até segunda no palco.
    Enéas Lour

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  3. Enéas,
    Achei super importante o comentário que você fez no último ensaio e está reflexão então, nem se fala! Concordo com cada palavra! Está faltando essa loucura dentro de nós, pra que cada um sinta e viva o seu personagem e assim entrarmos todos juntos no “Mundo Worchesthe”... Obrigada pelas palavras!
    Mari +

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