quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

"Serafim - Histórias de todo tempo e nenhum"

Troupe,

Antes de tudo FELIZ 2012!
Este ano vamos produzir a nossa oitava peça juntos!
Pensamos em muitas opções para qual peça poderíamos encenar e chegamos à conclusão que a melhor das opções seria mesmo escrever um novo texto, pois, como vocês bem sabem, o nosso grupo está composto por uma grande maioria de atrizes em contraste com o número de atores e, sendo assim, é BEM DIFÍCIL (para não dizer IMPOSSÍVEL) encontrar na dramaturgia mundial alguma peça na qual possam participar tantas atrizes e tão poucos atores. E as adaptações de textos transformando personagens originalmente criados como masculinos para serem encenados como femininos é bastante difícil e muitas vezes impraticável. Este foi o caso da peça que havíamos cogitado (ARSÊNICO E ALFAZEMA) a trama original concebida para 08 atores e 03 atrizes impede tal adaptação para ser encenada pelo GTCC.
Sendo assim, em dezembro/2011 comecei a escrever um texto novo e exclusivo para o GTCC pensando, quando da criação de cada uma das personagens, nos componentes do nosso grupo. Ainda estou no processo de criação e falta bastante para ter um primeiro texto concluído, mas, a idéia geral está concebida e isto é meio caminho.
Trata-se de um drama. Lembrando que drama segundo o Aurélio quer dizer :
Teatro - do latim - drama -e do grego - drâma - :  Gênero teatral em que o cômico se mistura com o trágico numa série de episódios complicados ou patéticos. 
Então, DRAMA não quer dizer dramático, sofredor, choradeira, baixo astral, certo?
Ao contrário, a idéia é um espetáculo mesclando momentos de tensão com momentos de comicidade, num contexto ultra-poético.
O título da peça é :
 "Serafim - Histórias de todo tempo e nenhum"
e fala sobre a caminhada da personagem Serafim por sua existência. Suas lembranças são o mote principal da narrativa cujo tema central é o tempo, circular e eterno.
As andanças e aprendizados de Serafim por suas lembranças, os encontros dele com diversas personagens que marcaram sua vida, seus amores, suas decepções, seus confrontos, seus dilemas, suas fantasias, seus enganos, suas ilusões e desilusões formam um grande e poético painel de sensações que nos remetem à nossas próprias vivências por nossos (outros) caminhos percorridos em nossas vidas.
Serafim é uma personagem inocente que enfrenta a vida de frente, que segue o inexorável caminho do tempo aprendendo a percorrê-lo a cada passo. As personagens com que ele se depara são às vezes cruéis, às vezes solidários, outras vezes patéticos, comoventes, parciais ou imparciais, trágicos, cômicos, como tantos que encontramos nós mesmos pela vida.

PARA QUE SE TENHA UMA IDÉIA AÍ VAI A RUBRICA DO TEXTO DE APRESENTAÇÃO DE SERAFIM :
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SERAFIM USA UM FIGURINO ESTRANHO, MUITO CLARO E UM POUCO SUJO:
SEU CHAPÉU, MEIA CARTOLA, TEM UM TOM DE NUVENS.
A CASACA TEM RABOS QUE QUASE LAMBEM O CHÃO E AS CALÇAS SÃO CURTAS, MEIA CANELA.
AS MEIAS SÃO CADA UMA DE UMA COR, ASSIM COMO TAMBÉM SÃO OS SAPATOS, DE DOIS TIPOS, ÍMPARES.
ELE USA LUVAS, UMA BRANCA A OUTRA PRETA E TRAZ SEMPRE SUA PEQUENA E FRÁGIL BENGALA ARQUEADA, DE BAMBU, COM UM CASTÃO DE VIDRO, COMO BOLHA DE SABÃO.
NO COLETE OS BOTÕES SÃO MUITOS, COMO ESTRELAS NO CÉU EM FURTA-CORES, MADREPÉROLAS.
SERAFIM É CALMO, TRANQÜILO COMO A ÁGUA DENTRO DE UMA BACIA SOB O VASO DE FLORES NO CANTO DA SALA. TEM OLHOS MANSOS E QUASE NUNCA FRANZE A TESTA. A NÃO SER QUANDO RI.
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O texto que estou escrevendo tem como referências poéticas algumas obras de escritores como Júlio Cortazar (“Histórias de Cronópios e Famas”); Bertolt Brecht (“O Vôo sobre o Oceano”); Jorge Luis Borges (“História do Guerreiro e da Cativa” e "O Jardim de Veredas que se Bifurcam”); Miguel de Cervantes (“Dom Quixote de La Mancha”); Paulo Leminski (“Anseios Crípticos” e “Agora é que são elas”); entre outros...

Como se pode perceber, estamos bem acompanhados, não é?

O texto é uma experimentação da não-linearidade da narrativa dramatúrgica, ou seja: as cenas não seguem necessariamente uma ordem linear, cronológica, pois, como se trata das lembranças de Serafim, ele lembra-se de um fato acontecido em sua vida e logo em seguida de outro ocorrido muito tempo depois ou antes daquele primeiro e assim sucessivamente.

Esta estrutura propõe um espetáculo não realista, ou se preferirem supra-realista, ou surrealista. Um espetáculo poético, onírico, musical.
O elenco atuará no sistema coringa, ou seja, cada atriz e cada um dos atores (exceto o ator que interpretará Serafim) interpretarão várias personagens durante a peça, algumas no coro de atores narradores e outras como coadjuvantes e/ou protagonistas ao lado de Serafim.
Esta experiência na forma de interpretação é nova para o grupo que desde 2005, talvez tenha experimentado algo semelhante apenas na primeira peça (O Corcunda de Notre Dame), mas, de uma forma muito incipiente ou primária, naquele nosso primeiro espetáculo encenado.
Nesta nova peça a experimentação da criação de diversas personagens distintas, onde cada um(a) terá duas ou três ou até quatro personagens, será muito rico em nosso processo de aprendizagem e experimentação de técnicas de interpretação.

Quanto à parte musical (sonoplastia) eu gostaria muito de poder contar com a música “ao vivo” e pensei em convidar a cantora, musicista, compositora e arranjadora Edith de Camargo, que tem um trabalho magnífico e mora em Curitiba. Se vocês não a conhecem pesquisem no Google ou no Youtube e vejam! Vale a pena! ... Mas, não sei se teremos orçamento para isto. Veremos com o Odilon Merlin se dá para trazê-la para estar conosco neste novo trabalho. Seria excelente se pudéssemos contar com ela no novo espetáculo.

A expectativa é grande sobre o que o Grupo de Teatro apresentará neste ano em que o Clube comemora os 130 anos de fundação.

No mais estou aqui em São Luiz do Purunã escrevendo o novo texto até fevereiro.
Vou para Curitiba na semana que vem e talvez pudéssemos nos encontrar para falar sobre o projeto, não acham?

Beijo (saudades)


Enéas Lour
São Luiz do Purunã
12 de Janeiro de 2012

Seguem algumas frases pertinentes ao conteúdo do novo texto:

Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo e longínquo.


Álvaro de Campos
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“No aceptar otro orden que el de las afinidades, otra cronología que la del corazón, otro horario que el de los encuentros a deshora, los verdaderos."
Júlio Cortázar
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"O preço da poesia é a eterna liberdade."
Mario Quintana

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"A loucura é o sol que não deixa o juízo apodrecer"
Enéas Lour

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